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ASPAS: Meu único acerto.

Escute enquanto lê: Blank Space - Taylor Swift

MEU ÚNICO ACERTO

Eu sempre fiz tudo errado. Não porque eu tivesse algum distúrbio que me fizesse ser diferente, não. Nada do tipo. É que eu gostava de fazer tudo errado mesmo. Gostava de partir o cabelo ao meio só para fazer raiva na minha mãe, e de usar uma meia de cada cor para ir ao colégio. Se alguém me dizesse que eu estava errada, por dentro eu comemorava. Gostava do prazer de cruzar a linha, de ir além do permitido. Sabe, viver assim nunca me causou nenhum problema, até a chegada fase dos relacionamentos. Ah, relacionamentos. Sempre foram minha pior metade.

Me apaixonava, os dias se enchiam de cores, amores eram declarados, e aí? Seria para sempre? Não. O para sempre não era feito para mim. Quando percebia que tudo estava certo demais, os móveis nos devidos lugares, as roupas dobradas sem amassar em cima da cama, o reflexo no espelho com o batom vermelho perfeitamente delineado… Eu jogava tudo pro alto. Eu gostava de ser um desastre, entende? Eu precisava fazer bagunça e ser furação por onde eu passava. E então eu quebrava tudo – literalmente. Os móveis, o seu coração – e o meu. Fechava a porta sem olhar para trás, e ia atrás do que eu não sabia bem o que era.

Eu gostava de não saber o que queria.

Passei por diversos quartos – pequenos, grandes, luxuosos, ou com apenas um colchão estirado no chão. Não se assuste, a lista é grande. Você pode bater na porta deles hoje, e perguntar o que eles acham de mim. "Ela é louca''. De fato, eu sou. Louca pela vida, louca pelos meus erros, louca por um batom vermelho borrado, louca por roupas jogadas no chão sem cuidado algum. Eu sempre vivi o momento, como se eu pertencesse a ele. Como se minha vida dependesse desses segundos que jogamos fora todos os dias com medo do que pode acontecer. Eu não tenho medo de mudar. Eu mudo. Eu não tenho medo do que pode acontecer. Eu quero que aconteça.

Então você já deve saber que eu não tenho medo de ir embora, porque isso já fazia parte de quem eu era. Um desastre de trem, uma vez ouvi um amigo sussurrar se referindo a mim. E eu não ligava, de verdade.

Mas aí você apareceu.

Pensei que fosse ser só mais um que eu fosse bagunçar a vida. Imaginei todos os términos possíveis, e qual seria a forma que eu quebraria seu coração – e o meu. Mas você tinha alguma coisa de diferente, eu não sei, ah… Você tinha. Seus olhos brilhavam mais do que o normal, e eu perdia as palavras quando estava ao seu lado. O que era isso? Eu estava bem de saúde? Por que todas as músicas pareciam falar de nós? De onde saiu esse coração que eu desenhei nessa página em branco? Cara, é sério. Fiquei assustada. Você parecia não notar, mas me derretia a cada vez que me dava as mãos para atravessar a rua. Me lembro até hoje de uma das primeiras vezes que fomos jantar juntos, as horas voaram, e no final da noite me dei conta de pela primeira vez, eu não passava um jantar inteiro mexendo no celular, no tédio. Você me entendia sem entender. Me amava sem saber.

E eu me questionava se era mesmo digna de todo esse amor. Eu? A louca? A errada? Aquela que vai embora? A garota que nunca teria um para sempre?

Você entrou na minha vida, e me fez acreditar que eu finalmente poderia fazer o certo pelo menos uma vez na vida.

Você foi meu único acerto.

Ah… Eu já estou indo.

Quer que eu traga alguma coisa do supermercado?

- Isabela Freitas


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