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O rolê da baixa auto estima

  • Beatriz Mouchrek
  • 15 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

Sem estudos psicológicos, sem pesquisas, sociológicas, sem nenhuma base cientifica, só reflexões e observações de uma jovem completamente mergulhada nesse mundo, em outros mundos, e principalmente em seu próprio mundo.

Nós, não somente mas principalmente mulheres, crescemos ouvindo como os portar, como nos vestir, como tratar as pessoas e ouvindo também como é errado não seguir esses passos.

Somos condicionadas ensinadas duramente pelas rédeas da perfeição, do cabelo sedoso, do corpo malhado, das habilidades de cozinhar, lavar, passar, cuidar.

Tudo isso tendo como pano de fundo uma profunda hipocrisia, já que a sociedade "não nos obriga" ser assim, mas julga e põe à margem quem escolhe não ser.

Esse cenário, com suas normas intrínsecas nos leva a pensar que somos na maior parte do tempo medianas, as vezes suficientes, mas nunca incríveis, nos leva a pensar que nunca estamos fazendo mais que nossa obrigação.

Deixando o comportamento de lado um pouco, vamos falar de padrões estéticos. Sem eufemismo, a sociedade nos cobra beleza. Ninguém é condenado a pena de morte por não ser bonito, mas tende a ter dificuldade em fazer amigos, em relacionamentos amorosos, em desempenho profissional, em ser aceito e amado como um todo quando não segue o maldito padrão.

Tende a ser julgado, zoado e constantemente perturbado por "não se cuidar" ou"não se importar". Todo esse alvoroço começa a complicar a nossa relação com o espelho, nos faz acreditar que qunato menores as suas medidas corporais, quanto mais hidratado o seu cabelo, quanto mais bonita a sua pele, maiores serão as suas chances de se realizar, de ter sucesso, de ser feliz.

Esse padrão cruel faz as garotas, mais do que nunca, acreditarem que não são bonitas, não se encaixam, não merecem respeito. Nos faz achar que estrias, celulites e quilos a mais são passes diretos para se tornar uma pessoa pior, menos digna.

Com um tempinho de reflexão, cheguei à uma conclusão: ningupem escapa do rolê da baixa auto estima! Ele bate na porta das altas, baixas, magras, gordas,héteros, bi ou homossexuais, loiras, morenas, ruivas, brancas, negras e orientais, isso falando só das mulheres.

Antes eu inocentemente achava que só sofria quem foge ào padrão. Mas não é assim! Sofre quem está fora, quem tangencia e quem está bem no centro do tal padrãozinho.

Muitas vezes a garota loira, magra, que carrega uma bolsa de marca e um sorriso brilhante no rosto está sofrendo, se questionando a todo momento, conturbada, o que faz ali, o que deveria fazer e como ela é vista por cada um dos olhos que a fitam.

Os conceitos que regem esse rolê são a constante insuficiência, a necessidade de aceitação e a obrigatoriedade de satisfação, mas nunca satisfação própria, pelo menos não em primeiro lugar.

A tendência primária é achar que quem mais sofra é a garota considerada "feia", e não é necessariamente assim. Exatamente por não integrar a bancada das "belas", pouco é cobrado dela nesse aspecto.

Já a considerada "bonita" é silenciosamente cobrada a todo instante para que continue a ser "a bonita". Essa garota perde a liberdade de ser quem ela é, de ser natural, pois precisa manter a pose, já que perderá parte do seu valor perante a sociedade caso abandone o pesado fardo do rótulo que carrega.

A intenção não é medir quem sofre mais, e sim explorar um lado pouco falado da história: a pressão exercida pela beleza sobre quem mais a possui, olhando pelos olhos críticos do senso comum.

Observo diariamente, numa sala de aula qualquer, uma menina linda, linda pra mim, linda pra todos da escola, linda pra cada um que compõe as centenas de seus seguidores nas redes sociais, só não tenho certeza se é linda pra ela mesma.

Ela mantém em sua mesa um pequeno espelho (como nunca pensei nisso antes?) em que ela se olha constantemente, confere o cabelo, retoca a maquiagem, tudo para manter a beleza intacta.

Nos raros dias em que ela está sem maquiagem, fica retraída, evita conversa e na primeira oportunidade corre pro banheiro, e volta vestida de confiança, com os poros cobertos e os olhos contornados com a glória.

Não acho nem nunca achei nada disso futilidade, na minha opinião ela é apenas vítima da pressão, se sente moralmente obrigada a ser linda, e provavelmente já se acostumou a viver assim, se matando para manter íntegra a sua imagem perfeita, que de alguma forma deve fazê-la se sentir mais merecedora de respeito e empatia.

O mais preocupante é como um conjunto de regras tão estúpido e fraco possui tamanha capacidade de coerção sobre a sociedade.


 
 
 

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© 2014 por Beatriz Mouchrek. 

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