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O poema mais curto do mundo


Tenho assistido o mundo da sacada. Um sentimento de não pertencer misturado ao de não querer pertencer. Tenho observado as pessoas, as relações entre elas e as atitudes que as formam.

Observar a fundo tudo o que acontece ao meu redor tem me inundado com um sentimento específico, denominado pela palavra Anthrodynia, que significa uma tristeza, uma exaustão ao perceber o quão cruéis as pessoas podem ser umas com as outras. Eu sei que existem pessoas e lugares maravilhosos, sei que a vida pode ser incrivelmente linda, mas as vezes penso que ainda conheço muito pouco disso.

Me sinto rodeada de gente dura, fria, cruel e fraca no pior dos sentidos: no caráter. Quase nunca me sinto parte pertencente dos lugares e grupos em que me encontro, tenho vontade de sempre mudar, de conhecer outras pessoas, ir além, buscar a minha liberdade. Com o tempo vi que o conceito de liberdade e solidão se aproximam e misturam muito mais do que se imagina. Vejo isso de forma cristalina em mim mesma.

Meu desejo de ser livre, minhas ânsias de não me prender a nada nem prender nada a mim tem me trazido profunda solidão. Meu descontentamento ao ver as atitudes dos outros me faz querer me afastar cada dia mais, me proteger, me esquivar de toda dor, toda mágoa, de todo sofrimento.

Com o tempo tive que aprender a matar as pessoas em vida, e isso dói tanto, mas tanto. A vida nos obriga a esquecer que algumas pessoas existem, e tudo o que já fizeram por nos. É isso ou sofrer todos os dias com a falta. Nem sempre falta da pessoa em si, mas dos momentos, de tudo que foi, ou tudo que podia ser e não chegou a ser.

Tenho colecionado amores que tinham tudo pra ser e nunca foram, ou nem tiveram a chance de ser, acho que exatamente porque só foi amor em potencial pra mim. Cada um é um machucado, um pedacinho que me é roubado, e que querendo ou não, por mais clichê que seja, vai me fazendo perder o brilho e me fechando para o mundo aos poucos.

Acho que ao invés de evitar dor eu deveria procurar pelos curativos certos. Pela forma correta de me refazer, com a sequela mínima. Faz isso também, se deixa cair e ralar às vezes, investe no que vai te reerguer, mas não se deixa perder o que a vida oferece, de melhor e de pior.

No final tudo isso vai construir o poema mais curto que existe no mundo: você.


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